O episódio do Pod-Falar Criança, podcast do Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul, transmitido na quarta-feira, dia 17 dezembro, pelo canal oficial do TJMS no YouTube, promoveu uma reflexão profunda sobre novas formas de cuidado e proteção a crianças e adolescentes afastados temporariamente de suas famílias de origem. Produzido pela Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ), o programa foi apresentado pelo assessor técnico especializado da CIJ, Diógenes Ferracini, e teve como tema “Coxim, uma experiência singular de acolhimento”.

Em um período simbólico como o mês de dezembro, marcado pelo Natal e pelos valores de família, pertencimento e solidariedade, o episódio convidou o público a repensar práticas historicamente naturalizadas no Brasil, como o acolhimento institucional, apresentando uma alternativa que coloca o afeto, a individualidade e os vínculos comunitários no centro da política pública: o acolhimento familiar.

A convidada foi a juíza de Direito Tatiana Dias de Oliveira Said, magistrada com longa atuação na Comarca de Coxim, especialmente na Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso. Sua trajetória se confunde com a própria construção dessa experiência exitosa, que transformou Coxim em referência estadual e nacional ao se tornar uma comarca sem casa de acolhimento institucional, apostando integralmente no Serviço de Família Acolhedora.

Durante a conversa, foram abordados os caminhos históricos do tratamento dado a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, as limitações do modelo de acolhimento institucional e os desafios enfrentados para a implementação de um sistema mais humanizado.

A magistrada destacou que, embora as casas de acolhimento tenham papel relevante em situações emergenciais, especialmente onde não há alternativas, elas não representam o modelo ideal de proteção, sobretudo pela dificuldade de garantir vínculos individualizados e acompanhamento contínuo do desenvolvimento das crianças.

A experiência de Coxim foi construída de forma gradual e articulada em rede, com o envolvimento do Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Poder Executivo, rede de proteção e sociedade civil. A implantação do Serviço de Família Acolhedora, em 2016, substituiu a lógica da institucionalização por um modelo em que a criança passa a integrar o cotidiano de uma família, com rotina, cuidados personalizados e pertencimento, ainda que de forma temporária.

No episódio, a juíza explicou que o acolhimento, seja institucional ou familiar, é sempre provisório e tem como objetivo principal a superação da situação de risco, seja por meio da reintegração à família de origem, seja pela preparação para uma adoção responsável.

O programa também destacou a importância das audiências concentradas, realizadas periodicamente, para reavaliar cada caso com celeridade, respeitando o princípio da prioridade absoluta previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Constituição Federal.

Outro ponto abordado foi a capacitação e o papel das famílias acolhedoras, que recebem preparo técnico e acompanhamento constante, além de apoio financeiro do município. Segundo a magistrada, mais do que estrutura, o elemento essencial desse modelo é o amor, capaz de oferecer segurança emocional e ressignificar experiências marcadas por violações de direitos.

O episódio também ressaltou a relevância do trabalho em rede, do Projeto Padrinho e dos grupos de apoio à adoção, reforçando que a proteção integral da infância é uma responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade.

Mais do que apresentar dados ou procedimentos, o Pod-Falar Criança revelou histórias de compromisso, escolhas difíceis, desafios superados e resultados concretos, apontando para um futuro em que o cuidado com crianças e adolescentes seja cada vez mais humano, afetivo e centrado na convivência familiar e comunitária.

O conteúdo completo do episódio “Coxim, uma experiência singular de acolhimento” está disponível no canal oficial do TJMS no YouTube.

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