O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul transmitiu, na segunda-feira, 15 de dezembro, pelo canal oficial da instituição no YouTube, mais um episódio do podcast Pod-Falar, Criança. Com o tema “Família e parentalidade na contemporaneidade”, o programa propôs uma reflexão profunda e sensível sobre as transformações nas configurações familiares e sobre aquilo que permanece essencial quando o assunto é infância e adolescência: vínculo, proteção, responsabilidade e afeto.

Apresentado pelo assessor técnico especializado da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ), Diogenes Ferracini, o episódio partiu do reconhecimento de que a família, hoje se expressa em múltiplas formas — monoparentais, recompostas, extensas, por adoção, homoafetivas, entre outras — e que a parentalidade vai muito além do laço biológico ou jurídico. Trata-se de um processo cotidiano, construído pela presença, pelo cuidado emocional, pelo estabelecimento de limites protetivos e pelo compromisso com o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.

Para aprofundar o debate, o podcast reuniu três profissionais que atuam diretamente na interface entre Psicologia, Sistema de Justiça e proteção integral. Fabrício Rodrigues de Andrade, psicólogo do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), trouxe a perspectiva do Ministério Público sobre as dinâmicas familiares e os impactos que conflitos, rupturas e vulnerabilidades podem gerar na vida de crianças e adolescentes.

Beatrice Marinho Paulo, psicóloga do Núcleo de Apoio Técnico Multidisciplinar (NATEM/MP-RJ), contribuiu com um olhar técnico e humanizado sobre as necessidades de pertencimento, segurança emocional e cuidado nas famílias contemporâneas. Já Claudia Aguiar Pedroso Bezerra, psicóloga do TJMS, compartilhou a experiência do Judiciário sul-mato-grossense na escuta qualificada e no trabalho interdisciplinar, fundamentais para decisões que priorizam o melhor interesse da criança e do adolescente.

Ao longo da conversa, os participantes discutiram temas muito presentes na atualidade, como o fortalecimento de vínculos em tempos acelerados, os desafios impostos por separações e recomposições familiares, a influência das tecnologias nas rotinas de cuidado e a atuação do Sistema de Justiça de forma cada vez mais sensível, técnica e humanizada.

O debate também destacou como fatores históricos, culturais e sociais — especialmente relacionados às questões de gênero e ao machismo estrutural — ainda influenciam a forma como a parentalidade é vivida no Brasil, muitas vezes sobrecarregando as mulheres e desresponsabilizando os homens.

Dados apresentados durante o episódio chamaram atenção para a persistência da ausência paterna. Segundo informações do Portal da Transparência do Registro Civil, apenas em 2024, mais de 160 mil crianças no Brasil foram registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento, número que evidencia uma realidade marcada pela negligência e pela naturalização da ausência masculina no cuidado cotidiano.

Para os debatedores, a parentalidade responsável exige a presença afetiva e efetiva de todos os responsáveis legais, independentemente da configuração familiar.

O episódio também reforçou que afeto e cuidado não estão vinculados a gênero ou anatomia, mas à condição humana. Crianças precisam de adultos disponíveis, que assumam responsabilidades e construam vínculos seguros. A ausência, quando existe uma figura que deveria estar presente, pode gerar sentimentos de abandono, desamparo e insegurança, com reflexos que se estendem até a vida adulta.

TJMS